AUCTORITAS
MAGISTER
ou
"O Capitan! My Capitan!"
Marcos Alves da Silva
No dia 12 de maio de 2015, uma
inesquecível terça-feira, o Professor Doutor Luiz Edson Fachin foi sabatinado
pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado da República em razão de sua
indicação, pela Presidente Dilma, para ocupar o cargo de Ministro no Supremo
Tribunal Federal. A sessão que iniciou e prosseguiu com características de
verdadeira inquisição religiosa, mesclando ranços de fundamentalismo e
preconceitos típicos das posições mais reacionárias e retrógradas, gradativamente
converteu-se em uma Aula Magna de Direito, acompanhada com atenção, em todos os
quadrantes do País, por milhares de pessoas.
À medida que o tempo passava, foram
quase doze horas de sabatina, a figura do Professor agigantava-se. De um
momento em diante nenhum Senador se referia ao sabatinado como "Dr. Fachin".
Todos passaram se dirigir a ele como "Professor Fachin". Os
Senadores, mesmo os mais aguerridos opositores ao Governo Federal, reconheciam que
o jurista indicado pela Presidência da República se distinguia não somente por
seu conhecimento jurídico e erudição humanista, mas, também, por sua postura,
por sua autoridade. Estavam diante de um mestre e como tal o reconheceram e
desta forma passaram a tratá-lo.
A aula, no Senado, estendeu-se da manhã
até a noite. Nunca tive jornada acadêmica tão longa como aquela. Sem intervalo,
com meus colegas do fundo da sala, no Senado Federal, emocionados víamos nosso
Professor dando a aula mais difícil de sua carreira. Mesmo frente a hostilidade
ou malícia das perguntas, o que avultava sempre era a autoridade do mestre.
A análise da origem etimológica da
palavra autoridade [auctoritas] da acesso
a compreensão de seu genuíno sentido. Esse substantivo está associado ao verbo augere que significa aumentar, fazer
crescer, fertilizar e fortalecer e ao substantivo auctor (o autor, causador, aquele que dá origem, o fundador da
família ou da cidade, líder). As raízes do verbo e do substantivo estão
refletidas no significado de auctoritas.
Autoridade tem o autor, aquele que produz o conhecimento, aquele que cria, que
funda o novo, não empresta de outrem e, por isso mesmo, lidera naturalmente e
como tal é reconhecido.
Os alunos de hoje, de ontem e de sempre
reconhecem no Professor Fachin o educador que, com autoridade, impactou suas
vidas, alguém que assumiu a tarefa de formar cidadãos responsáveis por seus
atos, pessoas críticas e criativas. Um mestre realmente vocacionado a preparar novos
juristas para uma sociedade em constante transformação, ajudando-os a quebrar
paradigmas.
As mentes mais retrógradas da sociedade
brasileira quiseram obstar o caminho do Professor Fachin ao Supremo Tribunal
Federal. Lembrei-me, então, do filme
"Sociedade dos Poetas"
mortos. Um professor hostilizado por uma sociedade autoritária e conservadora.
Ao final do filme, em reconhecimento à autoridade e ao extraordinário
magistério do professor Keating (personagem de Robin Williams), demitido da
escola em razão de seus métodos heterodoxos de educação, seus alunos sobem sobre
as carteiras da sala de aula e proclamam em uníssono: "O Capitan! My Capitan!", uma
referência ao poema de Walt Whitman, que exaltava a figura de Abraham Lincoln, líder
de uma outra Nação.
Na próxima terça-feira, 16 de junho de
2015, será o dia da posse do Professor Luiz Edson Fachin como Ministro do
Supremo Tribunal Federal. Todos nós, seus alunos para sempre, simbolicamente, subiremos
sobre as carteiras para celebrar um magistério cuja autoridade foi reconhecida
pelo Brasil. Vamos bradar por todo o País: "O Capitan! My Capitan!" Um professor à altura do mais alto
cargo do Poder Judiciário. Uma esperança para a Nação e para efetivação de seu
projeto social e democrático inscrito na Constituição de 1988. Certamente um
líder para a Nação, dotado de inequívoca autoridade.
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